segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Andrea doria

Andrea doria

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...
Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir...
Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...
Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...
Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...
Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...
Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...


               Renato Russo e Dado Vila-Lobos


As flores do mal

As flores do mal

 Eu quis você
E me perdi
Você não viu
E eu não senti
Não acredito nem vou julgar
Você sorriu, ficou e quis me provocar
Quis dar uma volta em todo o mundo
Mas não é bem assim que as coisas são
Seu interesse é só traição
E mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Tua indecência não serve mais
Tão decadente e tanto faz
Quais são as regras? O que ficou?
O seu cinismo essa sedução
Volta pro esgoto baby
Vê se alguém lhe quer
O que ficou é esse modelito da estação passada
Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás
Porque mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Volta pro esgoto baby
e vê se alguém lhe quer

                                             Renato Russo





Canteiros

CANTEIROS
Quando penso em você, 
fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, 

menos a felicidade
Correm os meus dedos longos, 

em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego 

já me traz contentamento
Pode ser até manhã, 
cedo claro feito dia
Mas nada do que me dizem 

me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato 

um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros

e esconder minha tristeza
Que eu ainda sou bem moço 
prá tanta tristeza
E deixemos de coisa, 

cuidemos da vida,
Pois se não chega

a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, 

sem ter visto a vida.


              Cecília Meireles
                           

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

FLORES DO MAIS

FLORES DO MAIS

devagar escreva
uma primeira letra
escreva
na imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais


Ana Cristina Cesar

MAR PORTUGUÊZ


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

        Fernando Pessoa, A mensagem

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Poema Incíndental


Guardar,guardar,guardar...
guardar uma coisa não 
é escondê-la
ou trancá-la
em um cofre não se
guarda nada 
no cofre perde-se
a coisa à vista.
Guardar uma coisa
é olhá-la
mirá-la
por admirá-la.
Isto é:
iluminá-la
ou ser por ela iluminado.
Esta acordado
por ela estar por com...
ou ser por ela...''
                    
                 António Cícero